sábado, 23 de maio de 2009

         E como que pra fazer-se descobrir..


         ..o infinito se pôs alí. Numa toalha no chão de concreto e com duas pessoas encima, a olhar pro céu, como se este as fosse esmagar por um mínimo movimento que fizessem. Chegavam a pensar que uma noite inteira a olhá-las ainda passaria como menos de um minuto e que todo tempo do mundo seria pouco pro tamanho do momento. Numa imensidão de azul-quase-negro, os dois se perderam entre si, embora se soubessem alí. Tinham as mãos juntas e bem apertadas, e de vez em quando deixavam escapulir um sorriso tímido de canto de boca. Faltavam palavras que pudessem descrever. Mas pra quê palavras se em momentos assim existe o silêncio? O silêncio mais gostoso de se ouvir. De se ver. O silêncio que embora não dissesse nada, em sua contradição, dissesse tudo que precisasse ser dito. Os barulhos de fora, as pessoas gritando longe, os problemas dessa vida corrida. Nada era suficiente pra calar o bater dos corações. Era só isso que se queria ouvir. Encaravam as duas lá no alto, do mesmo modo que elas pareciam encará-los. Duas estrelas que se destacavam no meio daquele céu todo. No meio de todas aquelas.
         ..E depois de um tempo que segundo eles, pudesse ter sido suficiente pra decorar tudo aquilo, fecharam os olhos e imaginaram aquela mesma cena vista de milhões de outros lugares. 'Quem dera todos os dias fossem iguais..'

sexta-feira, 15 de maio de 2009

De vez em quando é daqueles de orelha à orelha. Noutras vezes são desses mais singelos e disfarçados.. Bem de canto, como se fossem um crime..

De vez em quando é dos que fazem doer os maxilares e as bochechas.. Mas noutras são dos mais bobinhos.. Que você pode ver só pelo brilho discreto do olhar..

Mas ultimamente.. E é esperado que seja por um tempo consideravelmente longo e satisfatório.. Têm sido daquele que te faz ver o sol mesmo o que o céu todo esteja nublado. Daqueles que dormem com você, que acordam com você, que saem contigo e não te deixam. Meus sorrisos..

terça-feira, 12 de maio de 2009


         Hoje não há terceira pessoa. Uma outra se foi e por isso, talvez, a terceira tenha ido junto com ela. Explicações são desnecessárias diante de certos fatos. Atitudes valem mais que palavras, e uma não atitude vale mais que ambos. Aqui, hoje, há só uma fulana como tantas diante de seus diários.

         A noite foi passada em claro, comigo tentando entender o porquê de ter sido assim. Depois das três, desisti.

         "Aquilo é passado'' eu disse. Mas não era eu dizendo. Era a terceira pessoa. Não que essa terceira não seja parte da primeira que eu sou, só que como primeira, quero me pôr em primeiro lugar de novo. E para isso, os sonhos utopicamente realizáveis da terceira precisam cochilar. Talvez leve, talvez por longos dias e noites. Talvez cochile tanto que fique esquecida por uma dessas camas de pensamentos..

         Mas se um dia voltar, dependendo do dia, da hora e do lugar, ela possa ficar ou se retirar.

         Se você que lê puder olhar fundo, como um tal colecionador de olhares, vai saber que no meu, há uma terceira menina pulando e dizendo ''não vá que eu te quero aqui''.. Mas você não é, e por isso não sabe.

         Por isso ela vai embora.

         A utopia sempre perde pra racionalidade.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

              ''..Help me believe in anything, 'cause I wanna be someone who believes..''


       Podia ser uma praia, um bar vazio com aquelas máquinas velhas que tocam músicas mais velhas ainda. Podia ser uma calçada que desse pra uma praça com banquinhos brancos e árvores podadas de forma arredondadas e aqueles postes de ferro moldado. Podia ser a vista de um precipício, de uma rocha muito alta que desse pro mar. Podia ser até um gramado bem mantido, descoberto pra que pudesse olhar pro céu sem nada que atrapalhasse suas interpretações das estrelas e de seus milhões de pensamentos.
       Eram muitos. Turbilhões de palavras chaves e de sentimentos impedidos que surgiam e se materializavam em lágrimas. Não todas de tristeza. Não todas de alegria. Mas todas por um só motivo. E as nuvens se abriam como se ela as pedisse pra que fizessem isso. Mas não pedira. Pelo contrário até, preferia que elas ficassem lá e acompanhassem, deixassem o céu nublado como sua mente. Mas a lua estava perfeita e clara, e limpa e enorme. Tão enorme quanto sua vontade de gritar. Gritar qualquer coisa sem sentido, mas que a deixasse livre de tudo aquilo. Limpa pra começar de novo.
       Mas a cidade estava cheia. A rua, movimentada, e sua garganta.. Cansada de soluçar.


              "..Believe me, 'cause I don't believe in anything..''

sábado, 9 de maio de 2009


. O mal de não poder ler mentes, é que sai-se, conversa-se, volta-se, e, as vezes, dorme-se como se nunca, nada tivesse sido dito. Porque não se tem a menor ou vaga idéia do que o outro pensa. Talvez não seja de todo ruim. Talvez seja importante que isso aconteça. Mas talvez não seja legal.

. O mal de se achar importante é que talvez você não seja. E isso pode acarretar muitos problemas. O certo talvez seja ser e sentir-se importante para consigo mesmo. Só isso e que mais ninguém, que pense o contrário, importe.

. O mal é não conseguir acreditar no que dizem.
. Não queria escrever isso. Mas precisava. Dessa vez era eu quem se sentia sufocada. Talvez amanhã isso seja apagado. Talvez tenha já tudo passado. Ou talvez não. Vai saber..

segunda-feira, 4 de maio de 2009

          .'Ela valsando.. só, na madrugada..'



      Não foi nada. Mas como um nada que foi tudo que não precisava, encantou e agoniou todo o resto do dia. Um cheiro que passou, e a música que tocava. Tudo ao mesmo tempo. Pouca coisa, coisas poucas, mas que a levaram justo ao lugar que não pretendia mais ir. Ao rosto que não queria mais lembrar. E se sentiu ofegante e respirou fundo, como se aquilo pudesse apagar memórias. Como se respirar fosse a única solução. E era. Se parasse, desmaiaria. Desmaiada, sonharia. Sonhando, lembraria. Não era isso que queria.
      Continuou andando, e tentando não fazer a música ser escutada, por seus ouvidos, que iam contra ela mesma. A música continuava, com aquela melodia suave e a voz doce e despreocupada. A porta se via a menos de meio metro, mas seus pés também teimavam, e ficavam na loja. Era tão pouco, e tanto. Ficou alí. Aceitou aquele pouco que podia ter. E o perfume que já passara, mas que como só pra tornar tudo mais real, voltava e se sentava com ela.. Se falasse, ninguém entenderia. Se escrevesse, provavelmente ninguém leria. Mas e se gritasse? Não.. Ele não ouviria.
Esquecer-se.



          Essa é a palara do dia.

        Do meu dia.

          Palavra essa que fora repetida pra mim tantas vezes, e eu, sem entender, a deixava de lado. Talvez como que por uma premonição que talvez aquele não fosse o momento certo de me esquecer.

        Palavra que tentava me tirar de casa e me convidava a conhecer outros lugares, outras pessoas, outros ares.

          Outros 'eus'.

        Me esqueço.

          Pode deixar.

    Mas me esqueço tão bem, que esqueço de tudo que também está comigo. E do que não está. E do que deveria estar, mas não está. Me esqueço das dores e dos ferimentos de batalha. Não que eu tenha ido pra alguma guerra. Mas que essa vida também me parece um campo de batalha. Com tantas mortes, com tantas atrocidades quanto nas que envolvem grandes potências. Que essa também envolve, mas deixam tudo embaixo dos lençóis.

    Mas me esqueço só do que me convém. Por fim, quero que meus sorrisos e meus aplausos, meus abraços e meus bons causos, sejam permanentes. Que esses, nenhuma lágrima apague, estrague, maltrate. Que desses eu possa me lembrar sempre, mesmo que sem querer. Que é pra isso que existe o passado. Não pra me lembrar do mal que passou, enfim. Mas do que era bom e me fez o que sou hoje.

    Não que o sofrer não sirva pra nada. Serve, que se fosse só riso a vida, seríamos biscoitos amanteigados. Mas do que devo me lembrar, é do que o chorar me ajudou a ser. O que eu consegui encarar dalí pra frente e me fez saber do que sou capaz de aguentar. Do que posso morder e mastigar. Saber que não posso abraçar o mundo, e que uma andorinha só não faz verão, mas que eu posso fazera minha parte. Que seja por egoísmo, talvez. Esperando meu lugar no céu, tijolinhos nas nuvens. Que seja. Mas fazer o que der na telha, que me faça rir, e que se me fizer dar com a cara no muro, é pra eu aprender a distinguir. É pra eu crescer mais um pouco. Que dessas estaturas, ninguém tem um tamanho limite.